domingo, 5 de maio de 2013

Fábula, Parábola e Apólogo



Fábula, Parábola e Apólogo
      
Os textos, em sua grande maioria, surgem na oralidade, pois a fala é anterior à escrita, e esta é essencialmente a materialização daquela, sendo ambas expressões do pensamento.
Entre os povos que não se utilizam da escrita, a figura do mais velho como portador de sabedoria é bastante comum e, curiosamente, este sábio não costuma discorrer sobre assuntos filosóficos ao ser consultado, pelo contrário, o respeito que adquire entre os seus reside justamente no fato de ser capaz de transmitir um ensinamento profundo por meio de histórias simples, fáceis de memorizar e de serem compreendidas. É por esse motivo que muitas delas servem para educar crianças nas mais diferentes culturas, transmitindo os valores de cada sociedade e apresentando maneiras de se comportar e de entender a vida nas mais diversas situações e adversidades próprias à existência humana.
Personalidades como o grego Esopo (VI a.C.) e o francês La Fontaine (XVII d.C.) destacaram-se por suas fábulas e apólogos, utilizados, inclusive, para educar futuros reis. No universo das religiões, destaca-se outro tipo de história, simples no que concerne às personagens e enredo, porém algumas vezes complexas quanto ao entendimento, demandando reflexão ou explicação: trata-se das parábolas. Há famosas parábolas cristãs, muçulmanas, hinduístas, budistas e taoístas.
Quando textos como esses são propostos em vestibulares, prioriza-se a capacidade do canditato de expressar-se por escrito de modo a demonstrar que é capaz de interpretar o conteúdo de uma fábula, apólogo ou parábola, ou produzir uma fábula, por exemplo, evidenciando sua compreensão não somente acerca da função desse tipo de texto, bem como de sua estrutura.
Tanto na fábula e no apólogo como na parábola, utiliza-se o recurso da alegoria, palavra de étimo grego que poderia ser traduzida como “dizer de outra forma”; ou seja, as personagens, situações e objetos, nessas histórias, representam tipos de personalidade, sentimentos e ideias. Por meio delas, pode-se afirmar que as abstrações do pensamento ganham cor e forma.
Para entendê-las melhor, deve-se atentar às características que as individualizam.


FÁBULA

Na fábula expressa-se uma lição moral. Nela geralmente não estão presentes mais de duas ou três personagens, principalmente animais personificados, cujas características associam-se a tipos de personalidade. O enredo é bastante curto e desenvolve-se em torno de um conflito. Não costuma haver descrições além do essencial para contextualizar o leitor, tampouco preocupação em se precisar tempo e espaço. O principal conteúdo costuma ser expresso nas falas das personagens, escritas geralmente por meio de discurso direto (ver unidade XXIV). Há, no entanto, fábulas em que não são apresentadas falas, concentrando-se o conteúdo no mero comportamento das personagens diante da situação de conflito. É comum, porém não obrigatório, destacar-se uma “moral” após o desfecho. Em fábulas modernas, escritas em prosa (em parágrafos), existe uma certa tendência à exploração do humor. Antigamente as fábulas eram escritas em versos.

                        Leia o exemplo a seguir.

                        O ASNO E O CAVALO

Um asno dizia a um cavalo:
- Tu que és feliz! Cuidam de ti direitinho, te dão alimento em abundância. Quanto a mim, nem mesmo capim eu tenho e inúmeros são meus sofrimentos.
No entanto, quando veio a guerra, um cavaleiro pegou o cavalo, montou e partiu. Corria de um lado para outro, lançava-se nos combates mais encarniçados. O cavalo, exausto, terminou morrendo. Incontinenti, o asno mudou de opinião, lamentando o destino do cavalo.
MORAL: não invejes nem os ricos nem os poderosos. Pensa nos invejosos que os ameaçam e aprende a gostar de tua modesta fortuna.

-          Esopo

http://www.fabulas2000.kit.net/pesquisa/pag_1073161_013.html

                       




APÓLOGO

Apólogo, via de regra, consiste em uma fábula em que as personagens são seres inanimados, objetos ou até partes do corpo humano. Do apólogo também depreende-se uma moral.


                     O PREGO E O MARTELO

Um prego e um martelo jaziam lado a lado, acerca de uns cem metros de uma hidrelétrica em construção.
Quase ao mesmo tempo, perceberam uma inscrição nítida e tosca numa parede, que dizia: “Quando Você for martelo, não se esqueça de que já foi prego!...”
O Martelo leu, não disse nada e continuou em sua inércia. O prego, no entanto, deu a maior importância à mensagem e principiou a refletir na dura missão dele, prego, que implantado a duras marteladas bem aplicadas em sua cabeça, penetraria lenta e sofridamente no madeiramento até desaparecer quase por completo, quando então ficaria sustentando toda uma armação pesadíssima de caibros e tábuas, no mais completo anonimato.
E ai dele se apresentasse qualquer folga, por mínima que fosse, porque prontamente alguém perceberia e novas e contundentes marteladas o recolocariam no seu humilde e devido lugar.
- Ah! Martelo - disse o Prego, depois de relatar seu pensamento - não queira nunca ser prego.
O Martelo refletiu por dois segundos e respondeu:
- Meu amigo, não pense que eu já nasci martelo. Não meu caro, eu já fui minério como você foi, passei por uma fundição, fui um valoroso prego na construção da usina de Tucuruí, sustentei orgulhosamente as tábuas que escoraram trechos das barragens de cimento e aço, depois fui rejeito, quase lixo, fui colhido e levado para Brasília onde fixei tábuas de barracos de úteis candangos (pregos humanos); tempos depois, virei lixo mesmo e fui catado por catadores de lixo, selecionado e remetido a uma fundição de reciclagem, quando então, junto com outros pregos, virei uma massa amorfa e posteriormente tomei a forma atual de martelo.
Sou martelo, mas sei que formamos um par na lida; par sumamente importante e indissolúvel, pois todo trabalho é digno, toda função é importante, ninguém entre nós atua ou é útil sem o outro.
De que vale o prego sem o martelo? Qual é a utilidade do martelo sem o prego?
Assim também, nós, seres humanos, deveríamos sempre refletir na interdependência que existe entre nós e no quão importante é que saibamos ver a importância de nosso próximo e a nossa própria, sem a exagerarmos ou desmerecermos uma ou outra sem razão.
A escada por onde se sobe é a mesma por onde se desce.

Read more: Diálogos Possíveis: o Prego e o Martelo | Blog Brasil Acadêmico http://blog.brasilacademico.com/2009/06/dialogos-possiveis-o-prego-e-o-martelo.html#ixzz1S5m5LrYl

PARÁBOLA

Na parábola, as personagens são seres humanos ou ideias apresentadas como pessoas. É uma alegoria escrita em forma de narração. Sua finalidade seria a de ilustrar verdades e sintetizar ensinamentos. Não raramente, além das personagens, alguns objetos e mesmo elementos da paisagem representam outras ideias e seres. As parábolas costumam ser mais elaboradas do que as fábulas e apólogos, uma vez que sua alegoria é mais ricamente trabalhada. As parábolas bíblicas, como a mostrada a seguir, estão escritas originalmente em versos (versículos) e são sucintas, entretanto nada impede que haja parábolas escritas em prosa, muito mais extensas e enriquecidas com detalhes e descrições.

A Parábola do Semeador

Eis que o semeador saiu a semear.
E quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na;
E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda;
Mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz.
E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na.
E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
(Mateus, XIII, 3 a 9).


Nessa parábola, propõem-se os seguintes significados:

Semente: a palavra de Deus (ensinamentos de Suas leis).
Semeador: aquele que ensina as leis de Deus.
Semear: pregar a palavra de Deus.
Beira da estrada (pé do caminho): “corações” preocupados com a saciedade dos instintos e paixões.
Aves: instintos e paixões.
Pedras (pedregais): “corações” endurecidos, impiedosos.
Espinhos: as situações do cotidiano, da rotina, dos afazeres destinados à manutenção da vida material.
Boa terra: “corações simples” abertos ao entendimento dos ensinamentos de Deus.
Frutos: obras resultantes das pessoas que entenderam os ensinamentos e passaram a agir segundo eles.
Cem, sessenta, trinta: alusão ao que cada “convertido” passou a produzir segundo as próprias possibilidades.

Atividade proposta:

A seguir propõem-se alguns ensinamentos morais ilustrados por fábulas de Esopo e Millôr Fernandes. Sugere-se que, para praticar, crie uma nova fábula para exemplificar essas afirmações.

"Nenhum gesto de amizade, por muito insignificante que seja, é desperdiçado."

"Os hábeis oradores, com astúcia e prudência, sabem converter em elogios os insultos recebidos dos amigos."

“Viver é desenhar sem borracha”

“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”

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